Os dias ensolarados de verão
sempre atraiam pessoas para a casa de Jade e Gustavo, todos iriam visitar e fotografar
o local. A casa era famosa por suas histórias, histórias que o povo contava.
Uma delas era que ali havia um tesouro escondido e só a pessoa certa iria
achá-lo. Como a gana por riqueza e poder sempre atraiu o homem, muitos foram
levados ao local para realizar escavações sem sucesso. Até historiadores
e arqueólogos já exploraram o local com intuito acadêmico. Ninguém nunca encontrou
nada, nem mesmo vestígios de qualquer espécie de tesouro, só restos de antigos
moradores (nada relevante). A casa tinha um visual deslumbrante com vista para
os costões que margeavam a colina onde estava a propriedade, tanto que os turistas
que não conheciam as histórias locais iam até lá apenas para fotografar o mar e
as formações rochosas que davam ao ambiente uma nuance cinematográfica.

Quanto a Jade e Gustavo? O casal se incomodava
no início com o mexe e remexe dos intrusos no local, mas com o passar do tempo
e o insucesso dos exploradores as visitações acabaram por diminuir e as
escavações pela busca do tesouro praticamente terminaram restando apenas
ruínas. Como a vida do casal era
bastante solitária, sempre que chegava alguém eles se animavam, iam até a
mureta próxima à propriedade, esperavam pelos visitantes e os acompanhavam até
a casa. Quando as visitas iam embora Jade e Gustavo lamentavam mesmo porque todos
que visitavam o local ficavam muito pouco e mal davam atenção para o casal.
Eles achavam que era porque uma parte da casa estava em ruína (devido às
escavações) e o pessoal não se sentiam bem, alguns chegavam até a comentar sobre
histórias fantasmagóricas, como correntes que se arrastavam na calada da noite,
barulhos de portas e janelas e até vultos que vagavam por ali na madrugada.
Mas, o casal só ria do fato, eles viviam ali havia muitos anos e nunca viram
nada semelhante, nem mesmo em assombrações eles acreditavam.

Ao entardecer de
um desses dias de verão, por volta das seis da tarde, uma tempestade formou-se
na região, dois jovens rapazes que caminhavam na praia que ficava próxima à casa
correram para buscar abrigo. Como eles não conheciam o local, pensaram que ali
não habitava ninguém, mesmo porquê grande parte da casa estava em ruínas.
Porém, ao chegaram à residência e protegerem-se da chuva dentro de um banheiro
semidestruído tomaram um baita susto com Jade e Gustavo que estavam num
cantinho encolhidos.
- Vieram se abrigar da tempestade
também? – Perguntou um dos jovem ao sentar-se sobre um pedaço de madeira.
- Moramos aqui – respondeu Gustavo
abraçado na esposa que parecia atônita.
- Se moram aqui, por que não estão
dentro da casa? Aliás, eu nem sabia que aqui morava alguém – disse o outro
jovem achando a resposta e consequentemente a atitude de Gustavo e Jade muito
estranha.
- É que são seis horas – disse Jade
meio dispersa olhando fixamente na direção do mar. – Por isso somos obrigados a
ficar aqui.
- Sim, e? – Perguntou um dos
jovens trocando olhares desconfiados com o amigo. Eles cada vez entendiam menos o
que estava acontecendo.
- Foi exatamente a hora que um
raio nos atingiu bem ali – respondeu
Jade apontando para o que um dia fora uma varanda.
- E sempre que ela vem (a
tempestade) ficamos aqui olhando repetidas vezes o raio nos atingir e nos fulminar,
deve ser nosso carma – acrescentou Gustavo ao estrondo de um trovão.
Os jovens saíram do local
gritando apavorados, subiram ainda mais a colina onde estava a casa até
alcançarem a estrada de chão que dava acesso a grande avenida. Pararam a
primeira pessoa que viram, uma senhora de meia idade, e contaram a ela o que
havia lhes ocorrido. A tal mulher ficou impressionada com o fato, uma vez que
Jade e Gustavo foram os primeiros moradores da casa e poucos sabiam disso. Eles,
Jade e Gustavo, haviam morrido em 1930 atingidos por um raio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário