
A região de Abraham era cortada
por vales e montanhas fascinantes. O clima era agradável na maior parte do ano,
com suaves brisas sulinas e céu coberto por uma fina camada de nuvens que
impedia a luz do Sol de ultrapassar. Esse clima era propício às chuvas, algumas
épocas elas eram constantes sendo que no inverno até a neve dava o ar de sua
graça fazendo a temperatura despencar abaixo de zero. Sobre as montanhas,
majestosas árvores formavam grandes bosques cercados de campos com
predominância de alecrim. A arquitetura local lembrava muito as construções
medievais, vilas eram bastante comuns na região e até impressionantes castelos ali
existiam. Era num desses, o Castelo de Ludham, que vivia a mais nobre
descendente da última linhagem real dos Coans, a rainha Helena. Uma família de
nobres reis e rainhas que deram início a colonização de Abraham. A região não
vivia em regime monárquico desde o falecimento dos tataravós de Helena, mas
ainda assim os nobres Coans influenciavam na administração local.
Numa outoniça noite de Abril,
Helena caminhava no bosque de Gerard, cujo nome homenageava o primeiro dos
nobres Coans, soprava uma brisa suave, o céu estava límpido e estrelado e a
rainha vestia um charmoso sobretudo azul real, luvas e cachecol de plumas. De beleza
deslumbrante, Helena era alta, olhos verdes e cabelos negros ondulados, uma
verdadeira dama cujos lábios eram marcados por um forte batom vermelho. Em meio
às árvores ela sentia aquela atmosfera intensa, abria os braços como se a
energia emanada do local lhe trouxesse paz espiritual. Deitou sobre as folhas
caídas da estação e fechou os olhos respirando lenta e profundamente, de
repente um farfalhar penetrou seus ouvidos fazendo-a despertar de seu transe.
Rapidamente se pôs de pé e perguntou quem estava ali, não obteve resposta. Recompôs-se
e começou a caminhar em direção ao castelo de Ludham, Helena tinha a sensação
que estava sendo observada. Ela olhava para trás na esperança de encontrar
alguém, concluiu que era algum animal e foi para o castelo. Ao chegar
deparou-se com o relógio sobre a lareira da sala marcando uma da manhã, seguiu
para seu quarto para então banhar-se em sua banheira de ervas, pétalas e sais.
Na sacada de seu quarto a janela entreaberta fazia com que a brisa balançasse
as cortinas brancas, atrás delas um homem forte, loiro, olhos negros
penetrantes e pele pálida como a neve a observava. Ela terminou seu banho,
secou-se e colocou uma camisola de seda rosa, penteou seus cabelos e foi até a
sacada, deu um grito ao ver aquele homem. Mas, ele pediu para ela ficar calma
que ele não iria lhe fazer mal. Como ela continuou a gritar, ele a segurou e
olhou dentro dos seus olhos compelindo-a. Hipnotizada ela acalmou-se e
perguntou quem era ele e o homem cordialmente beijando em sua mão apresentou-se
como Erick. Desconfiada Helena quis saber como ele havia subido até ali sem que
ninguém o visse, ela não compreendia como ele havia passado pela guarda que
ficava na porta do castelo. Ele disse que havia subido agarrando-se nas paredes
e ela disse que era impossível uma vez que o castelo tinha mais de trinta
metros de altura. Com medo, mas compelida a não gritar por socorro ela
rapidamente entrou para seu quarto e percebeu que Erick não a seguiu.
Estranhando a atitude dele e não querendo acreditar na possibilidade de que
aquele homem poderia não ser humano resolveu perguntar-lhe: - O que é você?
- Eu sou um vampiro – respondeu
ele olhando fixamente para ela que imediatamente recuou para próximo à porta de
seu quarto com olhar assustado. – Não tenha medo, não posso lhe causar mal
estando onde estou.
- Fique longe de mim – disse ela.
– Eu não irei convidá-lo para entrar.
- Te observo todos os dias, todas
as noites, em quase todas as suas atividades desde quando você nasceu, se eu
quisesse causar algum mal a você já teria feito – disse ele cuja voz emitia um
som que enfeitiçava todo o corpo de Helena.
Tomada pela voz do vampiro e
sentindo verdade em suas palavras, ela soltou a maçaneta da porta que segurava
e enchendo-se de coragem foi até a sacada e o abraçou fortemente. Sentiu-se
completamente envolvida por Erick e concluiu ser louca por fazer aquilo diante
do que seria um monstro. O calor do corpo de Helena fez vibrar o corpo do vampiro
fazendo-o beija-la profundamente. O beijo trouxe a ele uma temida sensação ao
tocar o pescoço da bela, a veia da jovem pulsava um líquido quente e tentador
desequilibrando todo controle que Erick estava tendo ao lidar com a moça, a
intensidade com que ela o abraçava e o beijava tornou-se propício para sua
natureza revelar-se e ele a mordeu vagarosamente fazendo-a gemer de dor e
prazer. Um prazer que a fez perder a cabeça e entregar-se. Uma sensação mais
forte que o ápice sexual e mergulhada naquele êxtase, ela caiu sobre ele que alimentado a tomou em seus braços e saltou da sacada rumo ao bosque para
recostar-se abaixo de uma árvore acariciando Helena por horas até que ela despertou
e ele desapareceu. Assustada e liberta daquela inebriante sensação ela tocou seu pescoço e
percebeu que não havia nenhum ferimento ou rastro de sangue. Ainda absorta foi para o castelo olhando para todos os lados como se procurasse alguém. Ao chegar em seu quarto, deitou-se sobre sua cama e adormeceu mergulhada na
incerteza do que de fato havia ocorrido.